Certo
dia chegou em casa, entre os dois turnos de trabalho e bateu um sentimento de
depressão ao relembrar do dia que teve, algo que ele sentiu apenas quando era
iniciante, mas foi apenas até ele se acostumar. Lembrou-se de tudo que fez e vivenciou,
seu macacão ainda tinha o forte cheiro dos produtos químicos que ele utilizava
para dissolver os corpos e algo chamou a atenção dele, o fez olhar atentamente
no seu sapato, pegou o óculos para enxergar melhor, até que finalmente
conseguiu identificar o que era, uma pequena gota de sangue. Ele logo se
estirou no sofá e voltou a relembrar, fazendo uma analogia de tudo que já tinha
feito desde que assumiu esse estilo de vida, todas as pontes entre a vida e a
morte que ele vivenciou, quase todas causadas por ele, aquele último suspiro
que suas vítimas davam antes de cair no sono profundo e eterno ao qual não se
tinha como fugir. O sentimento de ver a vida fugir de um corpo e ele passar a
ser um recipiente vazio, uma caixa sem conteúdo. Se ele olhasse pelo modo de
vista higiênico, ele estaria fazendo um bem pra sociedade, eliminando todo o
excesso que o mundo possui, mas olhando pelo ponto de vista divino, o que ele
cometia era um pecado e provavelmente ele estaria condenado ao lugar para onde
nem suas vítimas iriam.
Mas
o momento curto de depressão e o peso da consciência são interrompidos pelo
toque do despertador, avisando que era de voltar ao trabalho, afinal de contas
ele tinha um negócio para manter e um novo serviço para ser executado. Um gole
seco no seu café gelado e ele volta ao seu carro, ligando a placa luminosa que
faz a propagando de sua empresa: “Dedetizadora Anjo Miguel: a solução divina
para ratos e baratas”.
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